terça-feira, 3 de agosto de 2010

Um passo atrás!

"Hospitais sem especialistas
Os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente, em Lisboa, que integram o Centro Hospitalar de Lisboa Norte, não têm médicos especialistas nas escalas de serviço para assegurar as urgências internas no período diurno, das 08h00 às 20h00, nos dias úteis da semana."


Como forma de diminuir a despesa pública o governo decidiu cortar as escalas de médicos especialistas nas urgências durante o período diúrno. Obrigatoriamente um serviço de urgência tem duas equipas principais, uma de cirurgia - que recebe casos cirúrgicos, traumas, hemorragias - e uma de medicina interna que assegura os casos patológicos menos sensacionalistas, com menos sangue - infecções, problemas metabólicos, enfartes do miocárdio.

Dependendo da gravidade pode ou não ser necessária uma consulta pelo especialista, seja ele um Neurologista, um Otorrino, um Oftalmologista ou de uma outra área. O que acontecia até aqui é que estas especialidades estavam asseguradas nas escalas de urgência. Não todas mas as mais comuns. Cardiologia para enfartes graves do miocárdio. Neurologia para AVCs graves. Neurocirurgia para traumas graves na cabeça. Otorrinolaringologia para complicações de infecções respiratórias.

É óbvio que a manutenção destes profissionais nas urgências é dispendioso. No entanto se um paciente chegar às urgências com um destes casos graves, o que antes demorava uns míseros 5min a reunir a "equipa de ataque", agora pode demorar muito mais do que isso.

O médico especialista pode estar a meio de uma cirurgia programada e ter de abandoná-la para prestar uma urgência. Outro pode estar no meio de uma consulta externa e ter de atrasar os seus 50 doentes para dar um salto às urgências e ver outro, enquanto os primeiros já não vão jantar a casa porque o médico se atrasou num procedimento complicadíssimo que salvou a vida do segundo.

Não é ético. Dá a sensação de uma perda enorme de credibilidade dos profissionais de saúde. Eu pessoalmente não gostaria de ver o médico a sair do seu consultório quando a minha consulta estava marcada há vários meses. Em vez de progredirmos para uma maior qualidade dos serviços de saúde parece que se perdeu a noção das áreas certas onde proceder a tais cortes financeiros.

Nestes casos mais graves deveria haver uma avaliação pre-hospitalar ainda no veículo de transporte (ambulância, etc) de modo a evitar uma passagem pelas urgências centrais. O paciente seria assim encaminhado directamente para a unidade mais adequada à sua patologia, como por exemplo, para os cuidados intensivos da cardiologia, da neurologia, para o isolamento da infecciologia (falando nas admissões mais comuns e excluíndo a medicina interna).

Caso para dizer, se estiver prestes a ter um ataque de coração, espere só mais um bocadinho até as 20h!

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